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Arquitetos: Pedra Líquida
- Área: 1130 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:João Morgado
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Fabricantes: CLIMAR, Carpilux, Duravit, GRUPNOR
Descrição enviada pela equipe de projeto. O edifício São Bento Residences situa-se numa esquina notável do Centro Histórico do Porto, ao lado da Estação Ferroviária de São Bento, a escassos metros da Sé Catedral e da Avenida dos Aliados. Essa esquina resultou da demolição, na década de 1940, de uma frente de edifícios da Rua do Loureiro (uma artéria do século XVIII), com vista ao rasgamento de um novo eixo viário: a Avenida D. Afonso Henriques. Esse eixo gerou uma “ferida” aberta na cidade – um vazio urbano que expôs uma escarpa em granito (resultante da demolição), ainda hoje mantida e requalificada pelo município, enquanto elemento paisagístico.
O projeto do edifício São Bento Residences procura estabelecer uma continuidade entre esses diferentes layers históricos (de algum modo “suspensos” no tempo), e também uma relação equilibrada entre a fachada da vetusta estação, a frente da Rua do Loureiro, e a massa pétrea da escarpa confinante. A solução arquitetónica encontrada estabelece a ligação entre as escalas “monumental” e “residencial” que marcam a envolvente, mas também entre as matérias do “artificial” (as arquiteturas) e do “natural” (as encostas rochosas) que suportam o tecido do Porto. Nesse sentido, o edifício assume-se como um bloco monolítico, em betão aparente, edificado e bujardado in situ, em diálogo, ora com a escarpa, ora com as fachadas frontal e lateral do prédio em ruína, que passou a “habitar”.
Na resposta ao programa requerido pelo cliente – dezasseis apartamentos, entre tipologias T0 e o T1 – o edifício cumpre duas funções, traduzidas por dois volumes distintos: um deles absorve e complementa, por afinidade, a fachada setecentista da Rua do Loureiro; o outro inaugura a frente da Avenida D. Afonso Henriques, celebrando um novo tempo da cidade. Entre os dois volumes, abre-se uma “fenda”, a toda a altura do edifício, marcando a receção e os acessos verticais aos diferentes apartamentos. No piso térreo implanta-se um espaço de restaurante, aberto sobre as duas frentes.
A fachada da Rua do Loureiro foi reabilitada, nos seus elementos compositivos – ombreiras, padieiras, sacadas e cachorros em granito – nela mantendo-se um desenho de caixilharia e de guardas, em ferro forjado, perfeitamente enquadrado na frente urbana. A composição ritmada da fachada sobre a Avenida D. Afonso Henriques reinventa os vãos tradicionais do Porto Histórico, através de um novo jogo de varandas “sulcadas” na massa do edifício. Essa fachada projeta-se sobre o passeio, através de uma espécie de loggia – diferenciando o piso térreo dos restantes – uma solução comum noutros edifícios marcantes da Baixa portuense. Desses edifícios, resgata-se também o uso requintado do latão, na construção das delicadas guardas das varandas, corrimãos, sempre em contraste com o betão brut.
Entre a integração no ambiente urbano e natural envolvente, e a afirmação da sua contemporaneidade, o edifício São Bento Residences procura construir uma ligação conceptual entre o século XVIII e o século XXI.